Confira 6 alternativas ao cimento para reduzir seu impacto nas cidades

Apesar de representar cerca de 8% das emissões globais de CO2 é previsto que produção global do insumo aumente nos próximos 30 anos

Conforme evidenciado no Relatório da Chatam House, enquanto o cimento (essencial para a fabricação de concreto) é um material extremamente prejudicial ao efeito estufa e à crise climática, representando cerca de 8 % das emissões globais de CO2, prevê-se que sua produção global aumente nos próximos 30 anos para suprir a demanda da rápida urbanização de regiões como o Sudeste Asiático e a África Subsaariana. Ao mesmo tempo, o último relatório da IPCC nos alertou que nos restam apenas 11 anos restantes para reduzir as emissões e evitar danos irreversíveis da mudança climática. Ou seja, o setor de cimento está enfrentando uma expansão significativa no momento em que as emissões precisam cair rapidamente.

É muito raro uma obra que não use algum componente feito de cimento, seja para a estrutura, ou para assentar acabamentos ou construir pisos. Boa parte das infraestruturas urbanas também dependem do material, bem como grandes obras, como pontes, estradas, hidrelétricas etc.

 Ainda que diversos materiais venham mostrado potencial para tomar o protagonismo na indústria da construção, é quase ingênuo afirmar que o concreto poderá ser substituído num futuro próximo. Mas há algumas possibilidades de tornar sua produção mais ecológica e reduzir sua demanda em alguns usos tradicionais:

AshCrete

O Ashcrete utiliza cinzas volantes (um subproduto de resíduos produzido na combustão do carvão) como matéria-prima predominante para a produção de concreto. Ao ser misturado com borato, cinzas inferiores e um composto de cloro pode criar uma alternativa mais forte, mais durável e ecológica ao cimento Portland. Comparado ao concreto tradicional, o Ashcrete é mais resistente ao ácido, fogo, temperaturas drásticas e corrosão. Como um subproduto da combustão de carvão, o cimento de cinzas volantes é também muito mais barato que o cimento regular. Mas pelo mesmo motivo ele pode não ser viável economicamente em grande escala, pois o fornecimento das cinzas volantes pode ser um limitante e, principalmente, num futuro ideal, a exploração de carvão seria reduzida.

Finite

Através de um método criado pela empresa homônima para unir os finos grãos de areia do deserto, o material resultante é tão forte quanto concreto e pode ser facilmente derretido e remodelado para múltiplos ciclos de vida ou deixado biodegradar com segurança. Assim como o concreto, Finite pode ser moldado em qualquer forma ou tamanho, receber pigmentos naturais e não precisa ser queimado como argila, tornando-o menos intensivo em uso energia. Um ponto a ser considerado é que a humanidade já tem utilizado quantidades enormes de areia atualmente, e essa pode ser a próxima crise de sustentabilidade, reduzindo os potenciais deste material.

HempCrete

Hempcrete é uma mistura de fibras de cânhamo com cal e água. Cria tijolos oito vezes mais leves que o concreto, mas não é estrutural, ainda que possa ser integrado com sistemas de construção de edifícios tradicionais. Semelhante ao concreto tradicional, pode ser moldado no local ou pré-fabricado em componentes de construção como blocos ou chapas. Hempcrete é livre de umidade, evita mofo e é evitado por cupins, tornando-o uma opção atraente para uso interno. Por conter grandes vazios em sua composição, o material apresenta grande isolamento termo-acústico, sendo interessante para a necessidade de isolamento adicional. É importante lembrar que, apesar do potencial dos materiais de construção à base de cânhamo, esta planta ainda tem o plantio proibido em muitos países.

Micélio

Os cogumelos têm a vantagem de serem materiais que podem crescer, sob condições propícias de temperatura e umidade. As pesquisas ainda são incipientes, mas há exemplos de usos promissores para aplicações não estruturais. A empresa italiana Mogu tem desenvolvido uma linha de produtos à base de micélio, como placas acústicas, pisos e painéis. O biomaterial é altamente poroso, proporcionando um ótimo desempenho acústico com a capacidade de absorver o som, além de beneficiar a qualidade do ar ao absorver toxinas.

Ferrock

Descoberto por engano pelo pesquisador David Stone, o Ferrock é criado a partir de pó de aço – que normalmente seria descartado de processos industriais – e sílica – obtida a partir de vidro moído. O material endurece quando exposto a altas concentrações de dióxido de carbono, que é absorvido e preso, fazendo com que o composto se torne carbono negativo. O resultado é um material cinco vezes mais forte que o cimento Portland. O grande desafio é torná-lo econômico em escala e, por ser composto por subprodutos industriais, também pode ter uma limitação de produção.

GrapheneCrete

O grafeno é um nanomaterial composto por carbono, sendo o cristal mais fino conhecido. Leve, condutor de eletricidade, rígido e impermeável, pode ser utilizado como aditivo para o concreto, ampliando sua resistência e durabilidade. Como permite construir estruturas mais delgadas, isso poderia reduzir significativamente a pegada de carbono. O grande desafio é ter acesso ao grafeno e, como muitas alternativas concretas, os usos e a produção ainda estão nos estágios iniciais de desenvolvimento com muitas promessas.

É importante notar que criar um produto que possa ser usado tão amplamente e com tanta frequência quanto o concreto não é tarefa fácil. Neste sentido, investimentos em inovação e pesquisas são primordiais.

Fonte: Arch Daily | Eduardo Souza

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